Segundo Sara Jane da Silva, em sua tese: O canto de Oyá no Candomblé Keto: um estudo dos aspectos culturais e etnomusicológicos para a sua pós graduação em cultura e sociedade, realizada na Universidade Federal da Bahia:
"Oyá Messan Orun significa, em yorubá, a dona dos nove céus. Oyá manifesta-se sob uma diversidade de elementos que ela domina: vento, brisa, raio, fogo e o rio Níger. Embora no Brasil Oyá esteja associada às ventanias e tempestades, na África, Oyá é representada sob vários aspectos.
A ligação de Oyá com os espíritos e com os rituais fúnebres está ligada ao seu culto na Nigéria, onde ela deu origem a um clã de espíritos anestrais vetidos com panos volumosos e revoltos que aparecem nos festivais dos mortos. No Brasil, quando relacionada a sua natureza de encaminhar o espírito dos mortos, Oyá é nomeada como Iansã Balé, ou a senhora dos mortos."
Quando os orixás foram trazidos para o Brasil sofreram uma série de ressignificações, as diferenças entre a cultura oriental e ocidental se tornou um muro a ser vencido e por isso muitos itans e significados tiveram traduções diversas para um único tema, afinal interpretação e ressignificação são fruto de experiência pessoal, sabedoria individual e um conceito criado a partir dessa visão.
Hoje a internet se torna uma fonte infinita de conhecimento, mas também coloca em choque todas as visões distintas de único tema, fazendo com que se torne duvidoso muitos conceitos. Mas, com a licença e o respeito a todas as versões diferentes, vamos lá, vou contar como aprendi através dos itans e do livro Orixás de Vergé, mas vale lembrar que por ser lembrança, as palavras abaixo contém muito de mim e de minhas interpretações:
"Contam os antigos que Ogum e Iansã eram um casal do fogo, em sua morada a forja vibrava, latejante pelo ar e que seu calor, assim como o calor dos amantes, produzia armas para que todos os demais Orixás guerreassem pelo mundo, dividido as terras e multiplicando seu axé.
Um dia Iansã foi entregar as armas encomendadas por Oxaguian e esse logo se encantou pela guerreira indomável que trazia suas armas, Oxaguian, que tem por essência a arte da guerra e a vontade da conquista, pediu a Iansã que convencesse seu marido a produzir mais armas, com maior velocidade.
Iansã por sua vez respondeu que isso seria impossível, já que Ogum estava produzindo toda arma e ferramenta que existia sobre a terra, que os Orixás eram poucos, mas os homens se multiplicavam.
Oxaguian estrategista como sempre foi e conhecendo a personalidade bruta de Ogum arquitetou um plano e então, toda vez que Iansã vinha lhe visitar cobria a guerreira de reconhecimento e mimos, fazendo com que o corpo e o coração da guerreira começassem a desejar abandonar a forja pelo castelo de cristal.
De coração aquecido Iansã começou a sobrar mais forte seus ventos e a forja começou a produzir mais armas.
Ogum por sua vez percebeu que a sua esposa já não tinha mais os mesmos olhos para ele e então achou por bem despertar a curiosidade nela e começou a ensinar a Iansã como forjar a grande espada que ele carregava, a espada que num único golpe era capaz de dividir o inimigo em 9!
O tempo passou e Iansã continuou a viver seu amor com Oxaguian e entregar a ele muito mais armas do que a qualquer Orixá ou homem, o que garantiu a sua soberania nas guerras. A valente guerreira também aprendeu a fazer uma espada que dividia o inimigo em 7 partes, pois sabia que se Ogum descobrisse sua traição seria uma guerra violenta entre os dois orixás.
Um dia, desconfiado Ogum seguiu Iansã e viu os dois amantes juntos, furioso Ogum iniciou uma perseguição contra Iansã e logo que a guerreira conseguiu atingir certa distância, ela ergue sua espada e grita Reeeeeiiii! Golpeando Ogum no mesmo tempo em que Ogum golpeia a Iansã!
Foi então que surge Oyá, a Orixá partida em nove e por ter sobrevivido a uma guerra com Ogum e ainda ter se multiplicado em axé e força, o número de Oyá se torna o 9... suas qualidades originais também assim o são e como vento ela se espalhou pelos reinos, tornando-se rainha de muitos tronos e guerreiras de muitas guerras.
Ogum então se torna Megi, tendo sua cabeça e força divididas em 7, tendo por 7 um número sagrado e de grande alerta para Ogum, pois foi ele quem ensinou a arte da guerra que o derrotou. Megi também fala da fúria de Ogum e da guerra que não pode finalizar, pois nenhum homem pode prender o vento.
Ya Tati d'Iemanjá